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    A apneia obstrutiva do sono (AOS), que leva à interrupção da respiração durante o sono, pode acelerar o encurtamento natural dos telômeros, contribuindo para o envelhecimento celular prematuro. Agora, um estudo recente sugere que a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) pode mitigar essa aceleração. A pesquisa dividiu os participantes em dois grupos: aqueles tratados com CPAP e aqueles que receberam placebo. Os resultados mostraram que o tratamento com CPAP retardou o encurtamento dos telômeros, sugerindo sua eficácia não apenas no controle do sono, mas também no combate aos efeitos do envelhecimento celular da AOS.

    Num estudo envolvendo 46 participantes, descobriu-se que indivíduos com apneia obstrutiva do sono não tratada apresentavam um encurtamento mais rápido dos telômeros, um indicador de envelhecimento celular. Entretanto, o uso de pressão positiva contínua nas vias aéreas reduziu esse dano.

    A apneia obstrutiva do sono (AOS) é caracterizada por episódios repetidos de fechamento parcial ou total das vias aéreas superiores durante o sono. Isto leva a pausas na respiração que podem durar de alguns segundos a vários minutos, muitas vezes seguidas por despertares repentinos e respirações profundas. Sintomas comuns como dificuldade de concentração, cansaço e sonolência excessiva durante o dia podem diminuir significativamente a qualidade de vida e ser debilitantes.

    Se não for abordado, os indivíduos com AOS podem enfrentar riscos aumentados de hipertensão, doença cardiovascularinsuficiência cardíaca e diabetes, entre outros problemas de saúde, bem como falta de memória e concentração.

    O papel do CPAP na manutenção dos telômeros

    Um estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) no Brasil mostra que o encurtamento dos telômeros que ocorre naturalmente com o envelhecimento e é acelerado pela AOS pode ser mitigado pelo uso de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), um método de terapia respiratória em que o ar é bombeado para os pulmões através do nariz e da boca durante a respiração espontânea.

    Telômeros são estruturas feitas de ADN sequências e proteínas encontradas nas extremidades dos cromossomos. Eles desempenham um papel central na manutenção da integridade do material genético nos núcleos celulares. Eles encurtam naturalmente à medida que as células se dividem para regenerar tecidos e órgãos, e as células envelhecidas param de se dividir quando os telômeros ficam muito curtos. O encurtamento acelerado dos telômeros devido à AOS pode, portanto, levar ao envelhecimento celular prematuro.

    O estudo teve apoio da FAPESP e foi relatado em artigo publicado na revista Sleep.

    Metodologia de Pesquisa

    Os pesquisadores avaliaram 46 pacientes do sexo masculino com idades entre 50 e 60 anos e com diagnóstico de AOS moderada ou grave durante seis meses. Eles dividiram esses voluntários em dois grupos, tratando um com CPAP e outro com placebo (uma máquina de CPAP com vazamento oculto na porta de exaustão da máscara para dispersar a pressão terapêutica).

    Em visitas mensais, verificavam a adesão ao CPAP, considerado complexo e de difícil habituação. Eles coletaram amostras de sangue para medir o comprimento dos telômeros no início do estudo, três meses depois e no final da intervenção. Eles também analisaram marcadores de estresse inflamatório e oxidativo.

    “O encurtamento dos telômeros é inevitável porque está associado ao envelhecimento, à inflamação e ao estresse oxidativo, mas a AOS o acelera e descobrimos que o CPAP atenuou essa aceleração após três e seis meses”, disse Priscila Farias Tempaku, primeira autora do artigo e pesquisadora do biologia do sono no Departamento de Psicobiologia da UNIFESP.

    A ligação entre OSA, inflamação e encurtamento dos telômeros

    Na investigação dos mecanismos moleculares associados à AOS e ao encurtamento dos telômeros, os pesquisadores observaram que a inflamação é provavelmente a principal via via fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), uma citocina conhecida por estar envolvida na patogênese de algumas doenças inflamatórias e autoimunes. doenças.

    “No grupo placebo, o TNF-α influenciou o comprimento dos telômeros, enquanto a associação não foi observada no grupo CPAP. Isto mostra que além da sua já reconhecida importância na mitigação do risco cardiovascular e metabólico, o CPAP também reduz a inflamação e, portanto, atenua o encurtamento dos telómeros”, explicou Tempaku.

    “Os resultados ressaltam a criticidade do sono como fator de proteção no envelhecimento e fator de risco em pacientes com alterações. Este é um excelente incentivo, pois a maioria das pessoas reluta em usar o CPAP”, disse Sergio Tufik, último autor do artigo e chefe do Instituto do Sono da Unifesp.

    Epidemiologia do sono

    Pioneiro na pesquisa do sono no Brasil e no mundo, o professor Tufik criou o Episódio (“Episleep”) projeto para investigar a epidemiologia do sono. Ele e sua equipe realizam pesquisas com a população da cidade de São Paulo a cada década, desde 1986, para descobrir seus problemas de saúde relacionados ao sono, incluindo insônia, ronco e sonambulismo, e publicaram mais de 70 artigos sobre o assunto em revistas científicas. .

    A ronda de 2015 do inquérito centrou-se nos efeitos do encurtamento dos telómeros durante um período de dez anos, mostrando que ter AOS grave era equivalente a envelhecer dez anos. Esta descoberta, juntamente com as do estudo mais recente, levou os investigadores a concluir que deveriam investigar mais profundamente as ligações entre o sono e o envelhecimento.

    O Contexto Mais Amplo: Distúrbios do Sono e o Público

    “As pessoas envelhecem mais rápido quando dormem mal. O sono de má qualidade está associado à mortalidade tanto quanto outras doenças. Cerca de 30% da população tem AOS, mas não há atendimento para o distúrbio. O CPAP não é fornecido por serviços de saúde públicos ou privados e isso tem que mudar”, disse Tufik.

    A prevalência da AOS está a aumentar paralelamente ao avanço da obesidade, uma vez que as duas doenças estão frequentemente associadas. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), 70% das pessoas obesas sofrem de distúrbios do sono. A proporção é de 80% no caso de obesidade mórbida.

    O diagnóstico de AOS requer um teste de polissonografia, também conhecido como estudo do sono. O tratamento envolve CPAP e mudanças no estilo de vida, como perda de peso e evitar medicamentos para dormir, bem como bebidas alcoólicas à noite.

    Referência: “0466 Efeito da Apneia Obstrutiva do Sono e CPAP no Comprimento dos Telômeros e seus Mecanismos Associados” por Priscila Tempaku, Vânia D'Almeida, Sylvia Silva, Lia Bittencourt e Sergio Tufik, 29 de maio de 2023, Dormir.
    DOI: 10.1093/sono/zsad077.0466

    O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

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